04 agosto 2011

Em branco

O Centro histórico do Porto tem procurado recuperar, ainda que lentamente, uma certa movida perdida ao longo de muitos anos de má vida. O Pimms integra-se nesse esforço que procura trazer para esta zona uma certa sofisticação e cosmopolitismo. Tendo as maiores dúvidas sobre este tipo de intenções alienígenas e que carecem de alma e cultura local, resolvi investigar. E desta vez fui acompanhado.

Trata-se de um espaço imaculadamente branco, imagem de marca do Pimms, muito de acordo com o espírito do tempo a tender para o asséptico. Parece que entramos numa leitaria. Ou numa farmácia. Ou num concerto do Roberto Carlos. Os empregados, maioritariamente brasileiros, são gentis mas adoptaram o estilo ultra personalizado (tipo Manuela Moura Guedes), e apresentam-se dizendo o seu nome e desejando-nos imediatamente um bom jantar. Bonito, mas artificial.

Tudo começa da pior maneira: a um gin tónico que me é servido quase sem gelo e água tónica sem gás segue-se uma sangria deplorável de tão sensaborona. Das entradas seleccionadas, salva-se, com muito boa vontade, o folhado de chevre com doce de figo caseiro. Poder fumar é uma benesse que se agradece por muitas razões mas acima de tudo para poder acalmar a desgastada paciência, sobretudo depois de verificar que a carta de vinhos é vasta mas a preços indecentes. Das pastas, o Spaghetti Nero di Sépia al Gamberoni, embora não totalmente ruim, é confeccionado com uma pasta de má qualidade; o Pappardelle Primavera é uma desilusão pela ausência de tempero e de molho. Nas carnes tentou-se o bife com molho de café (tenro e com um molho competente mas que peca pelas batatas fritas industriais da pior espécie) e a Picata Vesúvio (bifinhos de lombo onde o excesso de tomate anula todo o sabor da mozzarella e as tais batatas fritas irritam ainda mais). Procurando consolo nas sobremesas, as opções foram uma mousse de chocolate com Vodka de chocolate Pancrácio (indulta-se a Vodka) e um gelado de chocolate branco com creme de vinagre balsâmico que, finalmente, acalmou algumas glândulas.

Conclusão: percebo a intenção e o empenho dos proprietários – de resto muito simpáticos e merecedores de toda a estima pelo investimento e por contribuírem para a recuperação do património. Mas não chega. Não basta parecer. Para quem não come só com os olhinhos, ainda há demasiados espaços em branco.

Pimms * Rua do Infante D. Henrique, 95 – Porto * Contacto: 22.2015172 * 2ª a 4ª das 12:00 às 24:00 – 5ª a Sábado das 12:00 à 01:00 * Preço médio: 20 € * Nota: 50%