Só aqui entre nós, tenho um medo dos guias de restauração, das referências, estrelas e galardões que me pelo. Não quero com isto dizer que, pontualmente, não recorra a esse tipo de orientações, mas é sempre com desconfiança que acolho a opinião alheia sobre seja o que for. E, ou é de mim, ou acabo de dar um tiro no pé… Um crítico gastronómico que teme a leitura de guias de restauração é assim uma espécie de filatelista com receio do correio.
Bom, para me redimir (e tentar conservar este ofício), o que quero dizer é bastante pacífico: nem tudo o que está nos guias é bom e há muita coisa que não aparece em nenhum guia e que é de perder a cabeça. Explicar isto já seria uma tese de doutoramento e agora não me dá jeito.
O D. Maria é precisamente um desses ilustres ausentes de guias, pelo menos dos guias de referência. E, afirmo desde já, que não se entende porquê! Embora talvez seja bom, porque muitas vezes as referências em guias sobem à cabeça e, muito rapidamente, aquilo que era óptimo se transforma em preguiça e facilitismo (podia citar vários casos mas não me apetece ter que pintar o carro outra vez).
Com uma decoração tradicional agradável, combina o rústico (paredes de xisto repletas de belíssimas fotografias e chão de madeira) com um inesperado requinte nas mesas. O acolhimento e o serviço surpreendem pela simpatia, agilidade e eficiência.
Quanto à comida, aqui não há inovações. Pelo contrário, é uma casa onde quem manda é a tradição. Para entrada um menu que é todo um programa: azeitonas, alheira, presunto, queijo, salpicão, e torradas de azeite (€ 9,75). Se acharem insuficiente, recomendo um competente caldo de perdiz (€ 2,90). E beber? Peçam o vinho tinto da casa e depois digam-me alguma coisa. Fantástico! Para prato principal, muitas e opíparas opções. A primeira vai para um muito bem confeccionado javali no pote com batata cozida e grelos (€ 11, 50). Mas, tanto o cabrito assado no forno com batata assada e grelos (€ 15,50), como o arroz de perdiz (€ 15,00) degustados pelos meus acompanhantes se demonstraram igualmente deliciosos. Para sobremesa uma explosiva mas imperdível surpresa: pudim fino de azeite com souflé de chocolate e gelado (€ 3,80).
Diz Anthony Bourdain que devemos desconfiar de restaurantes homónimos dos proprietários. O ego não é necessariamente uma indicação de boa mesa. Embora perceba a ideia, neste caso convém ignorá-la: o D. Maria é da Maria. Mas da Maria da Glória.
D. Maria * Largo Nossa Senhora do Amparo – Mirandela * Contacto: 278.248455 * 12h - 15h 19h – 23h (não encerra) * Preço médio: 20 € * Nota: 78%