Estes dias de chuva miudinha emergem-me numa enorme nostalgia
e umas incomensuráveis saudades do Brasil e da garoa de São Paulo, cidade onde,
por estranho que possa parecer, adorei viver. Mas onde, acima de tudo, adorei
comer.
Diz-se que é pelo estômago que se conquistam os homens (e
algumas mulheres). Não sou excepção e fiquei rendido àquela que é considerada a
segunda capital da gastronomia mundial (a primeira é Nova Iorque). De tal forma,
que me sinto Paulistano dos quatro costados e até sei contar anedotas sobre
cariocas.
Infelizmente por aqui boa parte dos restaurantes ditos
brasileiros são uma desilusão e, por vezes, congestão garantida. Enfardar e
pagar pouco não é sinónimo de comida brasileira. Comer ao som de sambas, forrós,
pagodes, axés e lambadas, com empregados fazendo piruetas, muito menos.
O Churrascão Gaúcho, em funções desde 1981, não é nada
disto. O atendimento é português e ultra profissional. Nada de música porque
aqui estamos para comer e não para dançar. Dividido em várias salas (a da
entrada reservada para fumadores), a decoração é rústica e dominada por madeira, ferro e paredes de granito.
Nas mesas, muito bem postas, imediatamente nos
disponibilizam diversos e apetitosos amouse bouche: presunto de boa perna, ovinhos
de codorniz, broa, azeitonas e uns rissóis acabadinhos de fritar. Para beber há
boa oferta de vinhos, mas não resisto a uma Caipirinha. Perfeita, coisa cada
vez mais rara atendendo à imensidade de contrafacções que por aí pululam.
Apetite
aberto, para entrada selecciono os camarões à crioula (€ 8). Animais de tamanho
generoso, fritos em alho, excelsamente temperados e picantes.
Para prato principal, são muitas e prometedoras as opções.
Mas não resisto à provocação de enfrentar um rodízio de carnes (€ 19,80 homens e
€ 17,80 mulheres). O desfile começa com uma deliciosa linguiça seguida de filet
mignon com queijo e presunto, contrafilés com alho, picanha, presunto, alcatra,
abacaxi, costelinha, terminando com uma esmagadora dose de queijo fundido. Tudo
isto acompanhado com muita farofa, feijão preto, arroz branco, cebola e banana
fritas.
Sem
clemência para com um estômago à beirinha da explosão, de um farto carrinho de
sobremesas ainda provo um muito recomendável pavê de chocolate.
Saio debaixo de um intenso temporal ouvindo João Gilberto
sussurrar-me ao ouvido: “alguma coisa acontece no meu coração, que só quando
cruza a Ipiranga e a Avenida São João...”.
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Churrascão Gaúcho ä
Avenida da Boavista, 313 – Porto ä
Contacto: 22.6098206 ä
12h - 15h30 | 19h – 23h (encerra Domingo) ä
Preço médio: € 30 ä Nota: 85%