07 julho 2011

Dependências

É cada vez mais comum confessar publicamente fraquezas, gostos e, pasme-se, dependências. Fazer da nossa vida um livro aberto (ainda que electrónico) parece uma obrigação. Há inclusivamente uma indústria que se alimenta disso mesmo e a que solenemente nos habituamos a chamar “redes sociais”. Fraco adepto de tais redes (ainda prefiro as que me trazem o peixe ao prato) utilizo este humilde meio para anunciar a minha vulnerabilidade: sou totalmente dependente de coisas acabadas em “ina”. Sosseguem. Estou a falar, essencialmente, de cafeína. Mas, acima de tudo, do Cafeína.

As opiniões sobre o mundo da restauração dividem-se frequentemente entre os que acham que a decoração de um restaurante é fundamental e os que defendem que o que verdadeiramente importa é a comida. E quando se conciliam os dois mundos? Paraíso na terra. Ora esse é precisamente o caso do Cafeína.

Nascido para responder a um determinado conceito estético (em que, digamos, se comia com os olhinhos), conseguiu impor-se por ter aliado a essa “estética” a ética de servir dos melhores repastos que é possível degustar em Portugal, fazendo desta casa um clássico sempre na moda. Ainda por cima, coisa rara e nunca vista, reservaram o seu espaço mais nobre para os fumadores. Único senão é a música “ambiente” e o seu excessivo volume que convida à mímica e impede qualquer diálogo (que não seja de surdos).

A carta de vinhos, disponibilizada em Ipad fresquinho, não é para info-excluídos. Mas as inúmeras opções disponíveis produzem mais coesão do que 500 reuniões de concertação social.

Quanto à comida, confesso que, enquanto escrevo, o síndrome de abstinência ataca-me, as glândulas salivares parecem amêijoas e só penso quando é que poderei regressar ao vício.

Início com a irresistível terrina de foie gras com pão fumado e maçã caramelizada que não repito por pura vergonha. Para prato principal, um vício de longa data: o bife tártaro, uma raridade só aparentemente simples (e muito out of fashion) que o Cafeína confecciona na perfeição sem esquecer nenhum dos preciosos ingredientes (destaque para as excelentes alcaparras). Terminar em beleza é saborear o bolo de chocolate amanteigado seguido de um sorvete de limão.

Se somos o que comemos, quando saio do Cafeína, sou lindo! E se me virem algum dia a arrumar automóveis e a mendigar uma moedinha, não sejam maus: todos temos os nossos vícios…

Cafeína * Rua do Padrão, 100 – Porto * Contacto: 22.6108059 * Das 12h30 às 18h e das 19h30 à 01h30 (não encerra) * Preço médio: 45 € * Nota: 90%