17 maio 2012

Chega de saudade


Estes dias de chuva miudinha emergem-me numa enorme nostalgia e umas incomensuráveis saudades do Brasil e da garoa de São Paulo, cidade onde, por estranho que possa parecer, adorei viver. Mas onde, acima de tudo, adorei comer.

Diz-se que é pelo estômago que se conquistam os homens (e algumas mulheres). Não sou excepção e fiquei rendido àquela que é considerada a segunda capital da gastronomia mundial (a primeira é Nova Iorque). De tal forma, que me sinto Paulistano dos quatro costados e até sei contar anedotas sobre cariocas.

Infelizmente por aqui boa parte dos restaurantes ditos brasileiros são uma desilusão e, por vezes, congestão garantida. Enfardar e pagar pouco não é sinónimo de comida brasileira. Comer ao som de sambas, forrós, pagodes, axés e lambadas, com empregados fazendo piruetas, muito menos.

O Churrascão Gaúcho, em funções desde 1981, não é nada disto. O atendimento é português e ultra profissional. Nada de música porque aqui estamos para comer e não para dançar. Dividido em várias salas (a da entrada reservada para fumadores), a decoração é rústica e dominada por madeira, ferro e paredes de granito.

Nas mesas, muito bem postas, imediatamente nos disponibilizam diversos e apetitosos amouse bouche: presunto de boa perna, ovinhos de codorniz, broa, azeitonas e uns rissóis acabadinhos de fritar. Para beber há boa oferta de vinhos, mas não resisto a uma Caipirinha. Perfeita, coisa cada vez mais rara atendendo à imensidade de contrafacções que por aí pululam.

Apetite aberto, para entrada selecciono os camarões à crioula (€ 8). Animais de tamanho generoso, fritos em alho, excelsamente temperados e picantes.

Para prato principal, são muitas e prometedoras as opções. Mas não resisto à provocação de enfrentar um rodízio de carnes (€ 19,80 homens e € 17,80 mulheres). O desfile começa com uma deliciosa linguiça seguida de filet mignon com queijo e presunto, contrafilés com alho, picanha, presunto, alcatra, abacaxi, costelinha, terminando com uma esmagadora dose de queijo fundido. Tudo isto acompanhado com muita farofa, feijão preto, arroz branco, cebola e banana fritas.

Sem clemência para com um estômago à beirinha da explosão, de um farto carrinho de sobremesas ainda provo um muito recomendável pavê de chocolate.

Saio debaixo de um intenso temporal ouvindo João Gilberto sussurrar-me ao ouvido: “alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João...”.

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Churrascão Gaúcho ä Avenida da Boavista, 313 – Porto ä Contacto: 22.6098206 ä 12h - 15h30 | 19h – 23h (encerra Domingo) ä Preço médio: € 30 ä Nota: 85%