06 junho 2012

O que faz falta


Uma afirmação de grande actualidade: situações difíceis exigem grandes líderes. Eu por acaso acho que se tivéssemos grandes líderes teríamos evitado as dificuldades. É que ainda continuo a pensar que o meu avozinho – esse sim, o meu grande líder – é que tinha razão e que a melhor maneira de resolver um problema é evitá-lo.
Mas voltando ao início, se o que precisamos é de grandes líderes, nada como experimentar aqueles que o afirmam ser e que, dada a sua longevidade (mais de três décadas de existência), alguma razão devem ter.

Esta casa, situada na zona das Antas, é conhecida por receber a suposta elite da burguesia do Porto. Apesar disso, acolhem um esfarrapado como eu com toda a dignidade e sem qualquer tipo de discriminação. Sempre que me levantava para fumar na pequena sala e bar da entrada, imagino que pensavam que ia sair sem pagar mas, mesmo assim, foram de uma gentiliza sem limites, sendo apenas vigiado por uma estátua do Santo António. A sala é dominada pelo branco, pequenos lustres e uma selecção de pinturas clássicas nas paredes. Nas mesas, destaque para as jarras com revigorantes flores frescas. Ao fundo um painel indica-nos que se trata de poiso frequentado pela confraria gastronómica das Tripas à moda do Porto. É sabido que o bom líder é o que lidera sem espalhafato, de preferência em silêncio, mas a tipologia deste espaço pedia uma musiquinha clássica.

A carta de vinhos é extensa e contém várias pérolas, ainda que a preços um bocadinho excessivos. Para aquecimento oferecem-nos apetitosos rissóis, bolinhos de bacalhau, croquetes e uma extraordinária bola, No menu, para além de muitas sopas, imensas entradas (destaque para os ovos e mariscos). Opto por umas competentes amêijoas à Bolhão Pato (€ 19,50). Para prato principal, sigo a sugestão do Chefe e delicio-me com uma raridade: mílharas (ovas para os alfacinhas) de pescada fritas (€ 17,50) acompanhadas por um excelso arroz de tomate. Simplesmente divinais. Para sobremesa, escolho, e babo-me, com uma das melhores pêras bêbedas que me passaram pelo estreito (€ 3,50).

Steve Jobs afirmava que “a inovação é o que distingue um líder de um seguidor”. Não gosto de contrariar quem já não se pode defender, mas discordo. Na minha opinião, o que faz falta – particularmente hoje - são líderes que prometem e cumprem a difícil missão de conservar o que é bom. Sobretudo quando o fazem contra todos os ventos de pretensa modernidade ou inevitabilidade.

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Líder ä Alameda Eça de Queiroz, 126 – Porto ä Contacto: 225 020 089 ä 12h - 15h00 | 19h – 24h (não encerra) ä Preço médio: € 35 ä 80%