19 julho 2012

Comer como um Lorde


Tenho que admitir que sou muito sensível aos hodiernos apelos do empreendedorismo, da inovação e de choques dos mais variados tipos e feitios. Sou tão sensível que, assim que os oiço, fujo o mais rápido que puder para um qualquer local onde me garantam que aquilo que era bom continua a ser. Insultem-me, de preferência inovando, mas, cada vez mais, estou convencido que a grande inovação é o conservadorismo. O Oporto é um exemplo muito reconfortante disto mesmo.

Chegar a esta magnífica casa é regressar ao século XIX. O Largo da Igreja da Foz é um local idílico, dominado por frondosas árvores e uma lindíssima vista da Foz do Douro. Entra-se directamente para uma ampla sala, dividida em duas áreas (uma onde se pode fumar) repleta de detalhes decorativos e recantos fora de época, imperando uma calma que nos faz sentir convidados de uma família inglesa (a do Júlio Dinis, por exemplo). Gostei particularmente dos sofás na sala de espera e dos muitos jornais e revistas que acompanharam o indispensável gin tónico. Tanto a recepção como o atendimento são de gentleman.

As mesas, elegantemente decoradas, estão à distância perfeita para uma conversa reservada. Retratos de clientes famosos povoam as paredes. E este é o único senão. É que ter o Carlos Magno permanentemente a olhar para mim, irrita-me a úlcera e perturba-me a digestão.

O menu é um encanto e a lista de vinhos inclui óptimas opções. Para entrada selecciono os crepes de camarão gratinados (12 €) num cremosíssimo molho bechamel e o crocante de camembert (6 €) acompanhado por duas preciosidades: uma salsa frita e estaladiça e uma deliciosa compota de framboesa. Dos pratos principais escolho dois muito, mas mesmo muito, aconselháveis: o caril de gambas (17 €) e as costeletinhas de anho com hortelã (13,50 €). As gambas, de grande porte, mergulhadas num saboroso molho de caril, são acompanhadas por um rodízio de laranja, coco, ananás, maçã e natas e servidas numa caminha de arroz. Em relação às costeletinhas, para além da qualidade da carne, só vos posso dizer que o molho de hortelã faz milagres. Uma fatia de bolo de laranja (4 €) encerrou bem a opípara refeição.

Ainda que já saiba que o destino final desta crítica não será dos mais prestigiantes (no Oporto as críticas gastronómicas acabam afixadas nas casas de banho), afirmo com convicção: comi como um Lorde num dos melhores restaurantes da cidade do Porto.

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Oporto ä Largo da Igreja da Foz, 105 - Porto ä Contacto: 226 100 727 ä 12h30 – 15h e das 20h às 23h (encerra Domingo e 2.ª feira ao almoço) ä Preço médio: 30 € ä Nota: 90%