12 julho 2012

Cozinhar fora


Na generalidade, a maior parte dos restaurantes italianos em Portugal é de evitar. Aquilo que parece simples não o é, e a maior parte das tentativas acaba por ser uma profunda desilusão. No Da Salvatore estamos a salvo dessas frustrações porque, para além da oferta de 13 tipos de pizzas e 12 de pastas, degustamos algo que dificilmente se encontra noutro local e que vale a pena experimentar: a Charbonade.

Antes de mais nada convém sublinhar que o local é recôndito e que um GPS e muita atenção dão jeitinho. Mesmo à beira-mar (ainda que sem vistas para o mesmo) trata-se de uma casa com uma decoração simples mas muito arrumadinha, dividida em duas salas, numa das quais se pode fumar. A recepção e atendimento são do tipo familiar e eficientes embora se atarantem um bocadinho quando as salas ficam cheias. A refrigeração do espaço não é famosa e mesmo o mais tropical dos clientes rapidamente inicia um processo de destilação bastante desagradável. A iluminação das mesas também poderia ser melhorada – desde que não seja com velas porque para calor já basta o que basta.

Das entradas, que integram o couvert, provo um presunto sofrível, um saboroso queijo amanteigado e umas amêijoas e mexilhões razoáveis. A lista de vinhos é curta, o que é sempre pena, mas a sugestão de um “Olho no Pé” (pinot noir do Douro) surpreendeu e merece destaque.

Para prato principal recebo aquela que é principal razão da visita da maior parte dos fregueses: a famigerada Charbonade (€ 21 para duas pessoas). De que se trata? É uma espécie de fondue mas na brasa. Para o efeito trazem-nos uns bifes de vaca, muito finos e tenros que grelhamos apenas com sal num cilindro com brasas. Depois de “queimados” a gosto é só condimentar, experimentando os 6 molhos disponíveis, e acompanhar com umas batatas pré cozidas com casca, que se colocam igualmente na brasa. Servem-nos ainda fartas doses de batatas fritas mas que lamentavelmente se apresentaram demasiado oleosas.

Exactamente como em qualquer fondue o único defeito é que a necessidade de estarmos sempre atentos à “cozinha” impede conversas mais fluídas e que não sejam permanentemente interrompidas com o fatal “achas que já está?”. A grande vantagem da Charbonade, sobretudo para alguém como eu, que só muito raramente cozinho o que como (e ainda mais raramente como o que cozinho), é a de me fazer sentir um mestre da culinária. E sem loiça para lavar.

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Da Salvatore ä Travessa Caetano Remeão, 42 – Valadares – Vila Nova de Gaia ä Contacto: 22 713 95 75 ä 12h – 15h e das 19h às 24h (não encerra) ä Preço médio: 20 € ä Nota: 65%