12 abril 2012

Os magiares estão no Porto

Da Hungria, na década de 90, guardo óptimas recordações, mas nem todas publicáveis em revistas de família. Digamos que subscrevo a ideia de que, se Paris é amor, Budapest é sexo. E mais não digo sem a presença de, pelo menos, três escritórios de advogados.

A cozinha internacional no Porto tende a ser minimal repetitiva e, geralmente, fraquinha. A chegada da Hungria é assim uma excelente notícia, sobretudo porque, no presente caso, se trata de um magnífico restaurante.

Sou recebido com uma simpatia invulgar. No rés-do-chão desta casa (que em tempos foi abrigo do famoso Restaurante Transmontano) existe um Bar que também serve alguns petiscos. A sala principal, situada no 1.º andar, é francamente bonita. Predomina a utilização de vários tipos de madeiras, a exposição de diversas fotografias antigas e uma excelente distribuição de luz.

De imediato me são servidas as indispensáveis bogachas (pão aromatizado) e deliciosos patés de beringela e queijo. A lista é vinhos é forte, com muita oferta de líquidos húngaros. Por sugestão do gentilíssimo funcionário, opto pelo vinho da casa (branco e tinto) que é importado pelo proprietário a um seu compadre húngaro. Abençoados laços familiares que nos permitem experimentar tão extasiantes sabores.

Para entrada, duas pérolas: queijo grelhado com maçãs estufadas em vinho (€ 4,50) e um fígado de vitela grelhado com cogumelhos salteados (€ 3,80). Dos pratos principais, duas provas: carré de veado com mirtilos e croquetes de batata (€ 16) e ragu de javali à Gemenc (€ 12,50). Os mirtilos do carré (quase em compota) chegam-me servidos dentro de um kiwi descascado em forma de cálice. Os croquetes de batata (que acompanham ambos os pratos), suaves, delicados, sem pinta de gordura, são um exemplo de como se pode preparar este carbohidrato de forma criativa e deliciosa. O ragu (um guisado) de javali é uma preciosidade para o qual só encontro rival numa certa casa em Bragança. Termino com uma opção pelos opiáceos: parfait de papoila (€ 3,50), uma sobremesa gelada de opípara degustação e sem efeitos secundários. Esses viriam com o obrigatório vinho Tokay, de altíssima qualidade (5 Puttonyos, ou seja, com um nível elevado de açúcar que o tornam mais raro e refinado).

Em síntese: para copiar doutoramentos os húngaros não demonstram grande habilidade; já na cozinha, são de uma originalidade invejável.

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Zsa Zsa * Rua de Santo Ildefonso, 118-120 – Porto * Contacto: 225 194 370 * De 3.ª a sábado das 17h à 1h e ao domingo das 12h às 17h (encerra 2.ª feira) * Preço médio: 30 € * Nota: 89%