04 abril 2012

Os vendedores de emoções

Encontrando-me na Guarda, por razões que não vêm ao caso, e que vos maçariam de morte conhecer em detalhe (ao contrário do que os leitores possam pensar, a minha vida profissional não é isto), procurei, como sempre procuro fazer, encontrar um poiso para consolar o ditador estômago. Como habitualmente, de nada adianta perguntar aos autóctones onde se come bem porque, invariavelmente, nos indicam direcções totalmente opostas e ponderando regras altamente subjectivas. Optei por seguir critérios cientificamente muito mais objectivos e entrar no primeiro restaurante que encontrei.

O Belo Horizonte está instalado numa bonita e muito bem conservada casa em plena zona histórica da cidade. A sala, de pedra granítica à vista, não é grande mas é acolhedora. A recepção e atendimento são muito cordiais e o “mordomo”, que dá pelo nome de António José, (filho dos proprietários que ainda se encontram ao serviço numa demonstração de envelhecimento activo formidável) é de uma gentileza e simpatia que nos faz imediatamente sentir em casa.

A oferta de vinhos é imensa, mas o mais relevante é que, pela primeira vez na vida, fui convidado a visitar a garrafeira e, tal como se estivesse numa livraria, a escolher o vinho de acordo com a região e ano. Mais, depois de escolher, não tive que ficar com a garrafa que estava na prateleira. Foi-me entregue outro exemplar que se encontrava conservado à temperatura ideal. “Somos a alma desta casa”, diz-me o António a certa altura. E que alma! A mãe é quem nos serve. Olhar materno, enternecedor e satisfeito por ver que o que nos oferece agrada. Coisa cada vez mais rara. E que não tem preço. Aqui não se vende comida, vendem-se emoções.

O que se come? Cozinha típica regional portuguesa e da Beira Interior. Inicio o magnífico repasto com um queijo fresco tradicional que combina na perfeição com o pão local. De entrada, aceito provar uma iguaria: carapaus fritos em molho de escabeche (€ 1,75). Para prato principal, seguindo o conselho do António, opto pela chouriçada regional (€ 9,48). Os enchidos (farinheira, chouriça e morcela) são de excepcional qualidade e em dose imensamente generosa. Para sobremesa provo - e aprovo - o doce da casa (pudim, bolacha molhada em café e natas - € 2,45) e não resisto a um clássico: queijo da vizinha Serra da Estrela. Coisa fina.

Eles afirmam: quem servimos, fala por nós. E não é que fala mesmo?

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Belo Horizonte * Largo de S. Vicente, n.º 1 e 2 - Guarda * Contacto: 271 211 454 * 10h às 22h (encerra aos Domingo à noite e 2.ª feira) * Preço médio: 20 € * Nota: 78%