11 agosto 2011

As virtudes do Buraco

Eu não sei se o buraco das contas públicas é colossal ou apenas ligeiramente abismal. Sei é que é tempo de poupar. Mas o estômago não tem culpa e não há razões para desenfreadamente passarmos a adoptar ementas de um euro que apenas terão como consequência aumentar o desemprego na indústria da restauração, diminuir a esperança de vida e, por consequência, reduzir a despesa pública com a diminuição das pensões.

Na melhor tradição portuguesa, para sair de um buraco, nada melhor do que recorrer a outro.

O Buraco é um daqueles restaurantes pequeninos, com uma decoração modesta mas muito hospitaleiro. Apesar de acanhado, pelo eficiente serviço e rapidez há espaço e tempo para acolher toda a gente.

O superintendente, o Sr. Manuel, é um autêntico mordomo. Recebe-nos com uma gentileza tímida, “arruma-nos” de acordo com as disponibilidades, fazendo-nos sentir que escolhemos a melhor mesa, iniciando sem pressões um processo de sugestões que, só por si, é já alimento.

O menu não é gigantesco mas também não é preciso. Ao contrários dos supostos restaurantes de vanguarda (leia-se onde se comem migalhas e se paga fortunas) em que o autoritarismo dos chefs quase nos quer ensinar a mastigar, aqui, ainda é possível compor os pratos, pedir para alterar acompanhamentos e satisfazer os caprichos de todos. E se um determinado componente já acabou, sugerem-nos alternativas que satisfazem a mais estranha das extravagâncias. Exemplos? As pataniscas de bacalhau ou as petingas não são uma entrada mas se quisermos podemos pedir um pratinho.

As entradas chegam-nos sem se fazerem anunciar. Uns rissóis de bacalhau são, apenas a título de exemplo, um agradável amuse bouche. Depois, experiências obrigatórias serão os filetes de pescada, o arroz de pato, o peito de vitela assado mas, se disponíveis, indispensáveis mesmo são as petingas com arroz de feijão malandrinho (juro que ouvi gemidos de prazer que deixaram perplexo um mediático sexólogo portuense presente na sala). Para sobremesa, nada de hesitações: é obrigatório comer uma ou quatro rabanadas que devemos reservar à chegada.

Last but not least, espero que com esta crónica se esclareça definitivamente o que eu quero dizer quando afirmo que gosto do Buraco e que se desfaçam (quase) todos os equívocos sobre a minha vida privada.

O Buraco * Rua do Bolhão, 95 – Porto * Contacto: 22.2006717 * Das 12h às 15h e das 19h às 22h30 (encerra nos jantares de Sábado e aos Domingos) * Preço médio: 12 € * Nota: 75%