16 fevereiro 2012

Aqui jazz... e mais nada

Associar restaurantes a outras actividades ou cidades parece ser uma orientação hodierna a que os empresários da restauração não resistem. Não sei qual foi o estudo de mercado em que se basearam (talvez o gasto mas de novo apelativo slogan “vá para fora cá dentro”), mas a ideia de Nova Iorque no Porto parece quase uma obsessão. Tendencialmente fatal.

O Tribeca mora num prédio de cinco andares. Para além de um piso dedicado à música ao vivo, tem também um espaço lounge onde se pode assistir a concertos via vídeo. A decoração é de altíssimo bom gosto, a música, easy listening, idem (jazz, soul e blues). Toda esta sofisticação aguça o palato e eleva as expectativas.

De couvert um prato de queijo, patê e umas tostas. Mau, muito mau. O prato vinha tão directamente do frigorífico que se notavam queimaduras de alguns graus em vários dos elementos. Pão, ainda que normalzinho, não há. A lista de vinhos é paupérrima, o que num bar é no mínimo estranho. Das entradas, sem grande entusiasmo dada a escassez de oferta, selecciono uma salada de pêra rocha com queijo de cabra (€ 6) e uma alheira de caça com grelos salteados (€ 5). A pêra não sabe a nada e o queijo apela a uma nova revolução industrial. A alheira é picante e é quase tudo que se pode dizer. Dos pratos principais, escolho o Tribeca NY Steak (€ 17,50) e uma açorda de marisco na sêmea (€ 18,50). Opções arriscadas mas que, de acordo com o funcionário, são “óptimas escolhas”. A carne é boa mas vem muito mal acompanhada. A salada é horrenda e despropositada (deslavada cenoura ralada, alface queimada, couve roxa murcha e cebola, tudo sem qualquer tempero – nem um coelho a morrer de fome a comia). A batata na prata, característica típica deste prato, dá pena. O queijo derretido vem duro e seco, tipo pastilha elástica. Tratar assim o prato que devia ser ícone da casa assegura o rápido fracasso. A açorda na sêmea, caminho pelo qual não se deviam ter metido, é dominada por um excessivo sabor a tomate enlatado e por marisco desenxabido. Já sem qualquer esperança provo o NY cheesecake (€ 5,50). Como docinho não é mau e até levantou a moral, mas nada tem a ver com um Cheessecake, muito menos com um cheesecake nova-iorquino.

Resta a inevitável pergunta? Porque é que um clube de Jazz, francamente bom e que tanta falta fazia à cidade, não pode ser “apenas” isso? Por outras e mais populares palavras: quem te manda a ti, sapateiro, tocar rabecão?

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Tribeca * Rua 31 de Janeiro, 147 – Porto * Contacto: 222 014 406 * 09h30 – 19h | 20h – 23h (encerra ao Domingo) * Preço médio: 35 € * Nota: 45%