09 fevereiro 2012

Regressar ao Casarão

Há alguns anos sai desta casa como quem, na minha geração, saia de casa dos pais (sim, hoje, nem com ameaças de bomba, alguém no seu perfeito juízo sai da “zona de conforto” – mais facilmente saem os pais): zangado, implicando com aquilo que não sabia apreciar, a achar que tinha o rei na barriga, iludido com vãs esperanças em novidades velhas, rogando pragas ao conservadorismo, enfim, como um pateta alegre. Felizmente, e ainda que com alguma dificuldade, vivi anos suficientes para poder perceber alguma coisa da vida. Pouco, eu sei, mas o suficiente para sublimar um erro do passado e ser perdoado e amado como se nunca daqui tivesse saído.

O Casarão é uma casa antiga mas muito bem conservada, com uma decoração clássica, um amplo salão e várias salas privadas, chão em soalho e janelas com portadas em madeira. As paredes brancas são decoradas com quadros pintados a óleo. A recepção é cavalheiresca e amistosa. E sinto no olhar de quem me recebe o pensamento: “o bom filho à casa torna”. Rapidamente se percebe que é um restaurante frequentado por grupos de amigos, daqueles que se reúnem há anos periodicamente. Tradições de gente caduca já que os verdadeiros amigos, como toda a gente sabe, estão no Facebook.

Na mesa elegantemente bem-posta esperam-me crocantes pataniscas de bacalhau quentinhas, croquetes, rissóis de marisco e uma bola de carne dos deuses. O restaurante possui uma excelente garrafeira, também de destilados (particularmente uísques). Na carta há de quase tudo. Muito marisco (destaque para uma feijoada de lagosta com camarão), uma infindável variedade de peixe fresco e pratos de carne clássicos (como o cabrito assado no forno ou o fondue bourguignone). Opto pelo peixe provando uns magníficos lombinhos de pescada com molho de marisco (dose a € 18 mas que dá para duas pessoas) e um robalo grelhado que pedi (podem-se ajustar os acompanhamentos sem espavento do chefe) que viesse com um delicioso esparregado. O peixe não só é fresco como tem aquele sabor a mar que me traz à memória noites de verão em locais longínquos, onde se podia pescar e comer o resultado da faina na praia. Ou os robalos que pescava em plena foz do Douro com o meu saudoso avô. Nas sobremesas as opções também são muitas. Escolho a simples, mas muito satisfatória, tarte de laranja (€ 3,50).

Perdoei e fui correspondido. É isto o amor.

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Casarão do Castelo * Rua Santa Catarina, 74 – Leça da Palmeira (Matosinhos) * Contacto: 229 951 626 * 12h – 24h (encerra às Segundas) * Preço médio: 35 € * Nota: 81%