01 março 2012

Papa-tolos

Inicio esta crítica com um esclarecimento: não tenho o mais pequeno prazer em visitar e comer em maus restaurantes. Ainda que me paguem para exercer este ofício, o estômago continua a ser meu e, não conhecendo ninguém interessado na sua hipoteca, tenho mais é que o preservar o melhor possível de todas as ameaças. Mas, como dizia o grande cronista brasileiro Nelson Rodrigues, a vida é como ela é.

À entrada do Papaboa fazem-me esperar para beber um espumante de boas-vindas. Teria preferido que mo servisse na mesa que, de resto, se encontrava pronta e à minha disposição. A decoração é, como dizer, uma confusão. Entre o clássico sofisticado e o informal domina uma parede verde alface, tipo cadeia de fast-food, que praticamente cega os convivas. O atendimento é simpático e prestável mas os resultados desastrosos. Depois de seleccionar os pratos, espero imenso pela lista de vinhos e, depois de escolher, uma eternidade pela chegada do mesmo. De vez em quando um senhor pouco motivado toca umas composições num sintetizador a título de música ambiente ao vivo (morto?).

Das entradas, cujos nomes prometem, selecciono a empada de caça com maionese de mostarda velha (€ 4) e o queijo de cabra com figos secos e compota de cebola em massa folhada crocante (€ 5). Demoram e quase não chegam porque se enganaram nos pedidos e nas mesas. A empada era vulgar e sensaborona (a salada de alface que a acompanha nem a um grilo morto se deveria oferecer) e o queijo de cabra, sofrível, comia-se. Dos pratos principais peço o bacalhau confitado em vinho do Porto com legumes (€ 14,50). Para além de ter demorado quase 40 minutos a chegar, tratava-se de uma miserável posta de bacalhau cozido, pousada em azeite sem qualquer sabor. Ao reclamar e perguntar se sabiam o que queria dizer confitado, percebi tudo: o olhar e o silêncio do empregado delatava a inocente ignorância e clamava perdão por pecado alheio. Insistem para escolher outro prato mas, tendo em consideração as repetidas reclamações que ouvi de outras mesas, decidi não prolongar a dor. Por delicadeza (e pura fome!), aceito provar uma sobremesa designada como “maravilha das maravilhas” (€ 4). Finalmente alguma coisa boa mas que tenho quase a certeza que não veio das mãos que anteriormente tantos desastres produziram.

Em Ano Europeu da Cultura, ou em qualquer outro ano ou época histórica, Guimarães não merecia isto.

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Papaboa * Rua Capitão Alfredo Guimarães, 412 - Guimarães * Contacto: 93 677 4485 * 12h30 – 15h00 | 19h30 – 23h (encerra ao Domingo) * Preço médio: 35 € * Nota: 35%