09 junho 2011

Pertinho do céu

Estar no nordeste transmontano, só por si, é para mim já estar às portas do céu. Eu sei que é estranho mas tenho esta mania de achar que territórios vazios de gente e perto de Espanha (ou, melhor, longe dos portugueses, sobretudo dos de Lisboa e do Porto), são o paraíso.

Para o comum dos mortais as justificações são muitas para evitar estes territórios: as estradas são más (o IP4 deveria ser transformado em parque de diversões, com atracções tipo poço da morte), não há grandes ofertas e oportunidades (nem novas nem velhas), que para tais distâncias mais vale ir a Espanha, os transmontanos são difíceis de conquistar (até porque a maior parte deles está em Lisboa). Enfim, com excepção do poço da morte, desculpas. Desculpas de quem se rende facilmente ao que está mais perto, ao que é mais rápido ou às modas e preconceitos.

O restaurante São Pedro é uma casa simples mas não simplória. A sala é espaçosa e a decoração recorda-nos onde estamos. O atendimento é tão gentil que me volta a fazer acreditar nas benesses do matrimónio. Aqui não nos servem pratos com espumas, nem liquidificações e muito menos reduções (sobretudo nas doses). Aqui temos comida de acordo com os mais simples elementos e confecção. Ainda por cima quase toda confeccionada com base em produção caseira. O que escolher? Nós sabemos ao que viemos: queremos o silêncio dos inocentes, de preferência bem tostados. Falo das deliciosas costeletinhas de cordeiro grelhadas. Dizem-me que não é comida portuguesa, que é um prato típico espanhol... Mas, sinceramente, já comi muito cordeiro espanhol e continuo a achar que quase todos foram mortos em vão. Acompanhamentos? Até os dispensava, mas não consigo evitar uma salada de tomate e alface a saber a tomate e alface e cometer um dos piores erros de nutrição (misturar hidratos de carbono – batata e arroz). Também é possível e recomendável (não necessariamente cumulativamente) comer a tradicional posta à mirandesa, e, estranhamente, tendo em conta o território em que estamos, um arroz de marisco que compete, ganhando, com muitos que comi em zonas afamadas e onde o mesmo é especialidade. Vinho? Beba-se o da região (neste caso da Cooperativa de Sendim) que é mais do que boa companhia. Sobremesas? Para quê? O que é preciso, isso sim, é uma aguardente local.

E tenho dito. Este São Pedro faz mesmo milagres. Que mais podemos pedir a um santo?

São Pedro * Rua Mouzinho de Albuquerque, 20 (centro histórico) – Miranda do Douro * Contacto: 273.431321 * 12h-14h / 17h-21h30 – Encerra à 2.ª feira à noite * Preço médio: 18 € * Nota 75%