19 janeiro 2012

Leitura recomendada

A necessidade de pôr a conversa em dia com amigos próximos, com quem já não privava desde o ano passado (há duas semanas), e concertarmos o plano de actividades para 2012 (não, não se trata de sociedade secreta que eu aventais nem na cozinha e lojas só tenho subscrição na Amazon), fez-me procurar um local onde se pudesse cavaquear tranquilamente saboreando alguma coisinha boa. Associado que está este novo ano a uma épica e turbulenta viagem, nada melhor do que jantar nos Lusíadas.

Para os que já estão a imaginar mais um restaurante cheio de livros, retratos de artistas enquanto jovens idiotas e saraus de poesia ou dramaturgia camoniana, desiludam-se. A decoração está mais para oceanário (sem ninfas) do que para biblioteca, museu literário ou ilha dos amores. O nome apenas encontra justificação quando reparamos nas réplicas dos painéis de azulejos, da autoria de José Rodrigues, invocando passagens da obra de Luís de Camões.

A recepção não é exactamente esfuziante. À entrada o aquário obrigatório neste tipo de espaços e que tanto incomoda as almas sensíveis quando constatam que vida precária é a destes crustáceos sem nenhuma possibilidade de indignação ou convocação de ‘manifes’ no facebook. Ao fundo um balcão com uma montra de peixes e mariscos francamente convidativa. Acomodados numa mesa espaçosa na óptima zona para fumadores, e depois de escolher um tinto do Douro de uma extensa lista de possibilidades, inicia-se a refeição com umas agradáveis Ovas à Algarvia em molho verde (€ 4). Afastada a hipótese de partilhar uma lampreia à bordalesa (amigos da onça!), provo e aprovo o peixe-galo frito com uma deliciosa açorda de ovas (€ 15) e uns esplêndidos filetes de linguado com um arroz caldoso de amêijoas (€ 23), a quem só faltava mais tempero. Para sobremesa experimento uma Pêra borrachona (€ 4,10), aprovada, e um fabuloso bolo de mousse de chocolate (€ 4,20), aprovadíssimo.

Tratou-se, sem dúvida, de uma refeição que satisfez bastante. Mas, como dizia o poeta, foi um “contentamento descontente” já que bastava um “não querer mais que bem-querer” para a nota subir uns pontinhos. O atendimento foi um permanente anti-climax, caracterizado por um serviço sisudo e com um enorme e glacial grand-finale complicando a emissão de facturas individuais e sem sequer um “obrigado” ou “boa-noite”. Ponham estes senhores na ordem ou enviem-nos para além da Taprobana e eu voltarei com muito agrado.

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Os Lusíadas * Rua Tomás Ribeiro, 257 - Matosinhos * Contacto: 229 738 242 * 12h – 15h30 | 19h – 24h (encerra Domingo) * Preço médio: 35 € * Nota: 75%