12 janeiro 2012

O amigo fiel

Não sei porque é que ao bacalhau chamam fiel amigo mas sei que foi um amigo muito fiel quem me deu a conhecer esta casa memorável.

Depois das habituais e repetidas doses de bacalhau natalício, e das costumeiras discussões sobre a origem e qualidade do mesmo, que incluem argumentos como “já não há bacalhau como antigamente”; “isto agora é só palmeta e vigarices do género”; “bacalhau a sério era o inglês”; “toda a gente sabe que o melhor bacalhau é do Alasca”; “bacalhau bom é o bacalhau fresco”, tinha jurado que, bacalhau, só lá para Março. De 2015. Mas a amizade é para mim um argumento muito forte pelo que resolvi quebrar a jura e visitar a catedral do bacalhau em Aveiro.

As preciosidades, como convém, não estão à mão de semear e é bom ter presente que não é fácil encontrar o Batista e que um (ou dois) GPS pode dar jeito.

A sala principal (há outra no 2.º andar para eventos especiais), remodelada recentemente, é acolhedora e, embora grande, não produz aquele insuportável efeito cantina. O serviço é rápido e muito atencioso.

A lista de vinhos não é extensa mas também não é preciso. A escolha faz-se “sem espinhas”: bebe-se o maduro branco e tinto da casa que dá exactamente por esse nome.

Para aperitivos uns óbvios bolinhos de bacalhau (€ 0,60 unidade) cuja identidade se reforça com um toque picante, e umas opíparas ovas de bacalhau (€ 3,50 a dose). De seguida, e por gratificante sugestão, provo a chora de bacalhau, uma voluptuosa sopa (a textura é quase a de uma açorda) e que originalmente era prato corrente a bordo dos bacalhoeiros. Garanto que nem o Alzheimer me impedirá de recordar semelhante pitéu para o resto da vida. Para prato principal opto pelo tradicional bacalhau assado na brasa (€ 19,00 a dose mas que dá para quatro pessoas) acompanhado por umas migas de couve branca e broa passadas pela frigideira e umas batatas assadas que antes de virem para a mesa passaram por um ligeiro banho de azeite do bom a ferver o que lhes dá um sabor único que, quase por si só, justificam uma deslocação a Aveiro. Para sobremesa um clássico da casa: natas do céu (€ 2,50) mas com ovos moles dos sérios, o que nos faz de facto ganhar asas.
Como é possível ler numa placa que indica a direcção para o restaurante, o bom bacalhau pode ser da Noruega (ou do Alasca, ou de Ermesinde), mas a tradição de o cozinhar como ninguém, essa, não há dúvidas: é do Batista.

***

O Batista do Bacalhau * Rua Padre Américo, 31 – Areias do Vilar - Aveiro * Contacto: 234 341 949 * 12h – 15h | 19h – 22h (encerra 2.ª feira) * Preço médio: 20 € * Nota: 78%