05 janeiro 2012

Traça a conservar

Admito que me dirigi ao Traça imensamente desconfiado. Quando os restaurantes andam nas bocas de toda a gente, o resultado não costuma ser brilhante para os estômagos. Finalmente uma excepção. E já não era sem tempo. Parte substancial da nova ou recente oferta de restaurantes do Porto é uma profunda desilusão. Não vale a pena insistir nos argumentos. Simplesmente pretendem ser aquilo que não são. E pode alguém ser quem não é? Pode, mas eu não tenho que o aturar.

O Traça abriu em Junho de 2011 e é já um clássico. Mora num velho prédio mantendo as portadas originais e apresentando uma decoração retro com base em materiais como o ferro, a madeira, o azulejo e móveis de antiquário. Gostei particularmente da mesa corrida à entrada (que preferia que se mantivesse de apoio ao bar) sobre um chão de mosaicos antigos.

Embora tendo feito reserva, sou obrigado a (des)esperar quase 40 minutos por uma mesa. A imensa simpatia dos funcionários e um gin tónico amenizam este primeiro impacto e ajudam a superar o ruído ensurdecedor dos animados convivas.

Finalmente alojado no primeiro andar (onde se pode fumar) provo um óptimo pão e uma deliciosa manteiga de alho. A lista de vinhos é extensa e com ofertas verdadeiramente interessantes. Das entradas (cuidado, são grandinhas, convém partilhar) selecciono o carpaccio de lombo de veado (com tempero de modena e queijo semi-curado - € 12) e a sertã de morcela (morcela, batatas panadeiras, ovo e pimentos - € 12). Ambas excelentes opções mas a morcela é memorável e poderia perfeitamente ser um prato principal. Feita a devida pausa, dos pratos provo o lombo de javali recheado (com queijo de cabra e foie sobre compota de frutos vermelhos e creme de maçã acompanhado de batata palha - € 18) e uma perdiz de caça estufada (com chalotas, ervilha francesa e batata palha - € 16,50). O tempero da perdiz é perfeito e a apresentação do lombo de javali surpreende pela estética mas também pelo intenso sabor da carne. Apenas dispensava a despropositada batata palha. Já sem grande vontade degusto a mousse de queijo com frutos vermelhos (€ 3,20). E ainda bem. É absolutamente fantástica! A oferta de um terapêutico digestivo à escolha foi um toque de classe já raro em casas deste género.

Sinceramente, assim sim. Este é um restaurante que fazia falta ao Porto. Agora é só não se estragarem, nem se deslumbrarem, coisa que a fama costuma provocar frequentemente. Juizinho!

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Traça * Largo de S. Domingos, 88 – Porto * Contacto: 222 081 065 * 12h às 15:00 | 19h às 23h (não encerra) * Preço médio: 35 € * Nota: 90%