30 novembro 2011

"Pratilhar" um pouco de muito

Sexta-feira. Noite de chuva e uma enorme vontade de ficar por casa, ver pela enésima vez uns episódios da série Columbo ou escutar o último – e magnífico! - disco do Tom Waits. Mas, perante um frigorífico vazio e a insistência de gente que queria à viva força mostrar-me uma recente descoberta, lá me faço à estrada. Mal podia imaginar que o que me esperava iria fazer-me voltar a acreditar na capacidade humana – e portuguesa também – para produzir inolvidáveis prazeres a partir de uma cozinha.

O espaço da Casa de Pasto da Palmeira é pequenino (cerca de 20 lugares) mas muito acolhedor. A decoração é moderna, com mobiliário, pratos e talheres um pouco kitsch. A proximidade entre as mesas e o excessivo ruído, defeitos noutros locais difíceis de suportar, são aqui irrelevantes e facilmente ultrapassados pela gentileza, atenção e celeridade dos empregados. E pela possibilidade de fumar.

Este espaço, que acaba de completar um ano de existência, é claramente influenciado pelo conceito francês da “bistronomie”, o grande sopro de renovação no cenário gastronómico francês. Aqui pelo que se come (ao longo de 12 horas ininterruptamente), pequenos pratinhos com petiscos inspirados na cozinha tradicional portuguesa mas não só, a regra é partilhar – conceito de grande utilidade para os tempos que correm.

A lista de vinhos é extensa, com preços muito razoáveis e possibilidade de vinho a copo.

Após uma selecção difícil, de uma cozinha totalmente à vista chegam-me por esta ordem: uma deliciosa terrina de foie gras com compota de cebola (€ 12); os já clássicos e soberbos queques de alheira com grelos numa massa folhada cilíndrica e um molho agridoce (€ 6); o trinitá de gambas e mexilhões com espírito de cowboy (picante) que é uma estonteante mini-feijoada de marisco (€ 8); e, finalmente, uma coxa de pato confitado macia, de pele tostada e cuja carne se solta dos ossos acompanhada por um sorvete de laranja (€ 7,50). Para sobremesa, o incontornável e surpreendente gelado de queijo de cabra com compota de abóbora (€ 4).

A refeição é, perdoem-me a metáfora um pouco desbragada e vulgar, mas simbolicamente bastante significativa, uma autêntica sucessão de orgasmos. Não há frigidez salivar ou qualquer outra que resista a semelhante estimulação dos sentidos.

Que mais querem que vos diga? Corram! Mas levem dinheiro em espécie porque os cartões de débito ou crédito não são bem-vindos.

Casa de Pasto da Palmeira * Rua do Passeio Alegre, 450 – Porto * Contacto: 226168244 * 12h00 – 24h00 (Encerra à 2.ª feira) * Preço médio: 25 € * Nota: 90%

Prato único

Dizia Mário Quintana que a preguiça é a mãe do progresso porque se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda.

Foi exactamente para não estorvar o progresso que resolvi escolher um restaurante onde quase tudo estivesse pré-determinado e pudesse reduzir as minhas ondas cerebrais a um rendimento mínimo garantido.

O Brasserie de L’Entrecôte chegou a Portugal nos anos 90 e tem as suas origens na Suíça com este conceito de ter o entrecôte como prato único (actualmente servem também bife de seitan).

O restaurante do Porto (há outros em Lisboa e Cascais) localiza-se no Passeio Alegre com uma fantástica vista sobre o Douro. A decoração embora requintada é informal. O atendimento é normalizado.

A garrafeira não impressionando é suficiente e tem dez opções de vinho a copo.
Quanto à comida foi só deixar-me servir. Inicio com uma desencantada salada de alface com rúcula e nozes (€ 5,40). Depois recebo o predestinado entrecôte de saborosa carne da vazia, acompanhado de abundantes batatas fritas e um agradável molho brasserie (segredo não desvendado - € 17,95).

Nas sobremesas termina o sossego e somos obrigados a opções complicadas. Provo um soberbo bolo de chocolate com nozes (€ 4,70) e um crème brulée quase perfeito (€ 4,55).

Síntese: se a preguiça o atacar e se gostar muito de carne (a preços pouco módicos), a morada é boa.

La Brasserie de L’Entrecôte * Rua do Passeio Alegre (Jardim das Sobreiras – Loja 2) – Porto * Contacto: 225321270 * 12h – 16h / 20h às 23h – Sextas e Sábados às 24h (não encerra) * Preço médio: 30 € * Nota: 67%

23 novembro 2011

Ler é beber e comer

A Rua de Aviz é de excelentes memórias. Primeiro porque, em plena adolescência, lá passei horas sentado num café, teoricamente a estudar e, na prática, a intercambiar conhecimentos musicais e namoradas com vários amigos; depois porque nessa mesma rua ficava a Livraria Aviz onde, com a minha mãe, costumava ir para excitantes compras pré-escolares. Regressar ao antigo espaço da Livraria Aviz, para jantar, era pois uma obrigação.

O Book é um restaurante-bar e o espaço perfeito para bibliómanos de garfo na mão. A decoração, embora tenha tentado conservar vestígios da função anterior é arrojada e muito atraente misturando betão com madeira e mobiliário retro. No bar (onde se pode fumar) encontramos muitos livros (espalhados por mesas, estantes e até no tecto), garrafas de vinho e, já menos compreensivelmente, sapatos.

Embora tenha feito reserva (indispensável!) dizem-me para esperar um pouco – truque baixo para me obrigar a visitar o bar. Peço um Mojito Hemingway. Sinceramente duvido que o Hemingway aprovasse a quase total ausência de açúcar no Mojito e, conhecendo-lhe o mau feitio, aguentasse esperar tanto tempo para ser atendido.

Chegado à mesa (a proximidade com outros convivas é um pouco excessiva, sobretudo quando um deles é uma indesejável criança) encontro creme de queijo, azeitona e a manteiga cuja relação com o minúsculo pão é difícil por este ser servido lentamente e a conta-gotas.

O menu chega-nos como marcador de página de um livro. Toca-me um “Desnuda por el mundo” de Tom T. Chamales. Será algum sinal? Profecia de futuro próximo? Sem comentários. A carta de vinhos é ampla com cerca de 70 referências e há vinho a copo entre 2 € e 5 €.

Para introdução selecciono o carpaccio de salmão com juliana de laranja (8 €) e o camarão salteado com alho (10 €), ambos competentes sem deslumbrar. Salto o 1.º capítulo (pouco interessante) e do 2.º escolho o lombo de bacalhau com Bulhão Pato (16 €) onde apenas lamento a inexplicável ausência do sabor a Bulhão Pato, e a excelente bochecha de porco com um delicioso arroz de forno de tripa (15 €). Para conclusão, ponho à prova o pão-de-ló, dito “melhor do universo” (de ovo – 4 €). Sendo indubitavelmente bom, mais modéstia não lhe ficava mal.

Dizia Victor Hugo que ler é beber e comer. Eis uma frase que podia ser o cartão-de- visita do Book onde, com algumas arestas a limar, estes prazeres fundamentais para uma vida decente podem ser razoavelmente satisfeitos.

Book * Rua de Aviz, 10 – Porto * Contacto: 91 795 33 87 * 12h00 – 15h00 20h00 – 02h00 (não encerra ) * Preço médio: 35 € * Nota: 77%

Para depois de promessas, bruxarias e afins

Os inexplicavelmente raros roteiros de locais de promessas, mezinhas e bruxarias, não costumam incluir dicas gastronómicas. Presto assim aqui um serviço a todos – e parece que são cada vez mais – quantos se deslocam à Capela do Senhor da Pedra (Miramar) e que, depois de encomendarem uma boa praga ou pedirem à Pomba Gira que lhes quebrem aquele mau-olhado do vizinho do 3.º Dto., necessitem de reconfortar o estômago.

O Areal é o típico restaurante à beira-mar plantado, ou seja, caracteriza-se por uma decoração entre o barraco de praia e o sofisticado lounge. O atendimento é profissional mas pela rigidez faz-nos sentir numa escola de hotelaria. A música ambiente irrita e suscita novas pragas. Menos mal que existe um espaço para fumadores.

O couvert é básico mas, a pedido, servem-nos um paté de atum e umas tostas. A lista de vinhos é normalizada. De entrada provo uma salada de polvo com molho verde. Vulgar. Quer nos peixes, como nas carnes há bastantes opções. Opto pelos nacos de novilho grelhados com batata a murro, grelos, couve roxa, e (pouca) laranja (18 €). A carne surpreende pela óptima qualidade e quantidade. Para sobremesa chamo um competente e digestivo Coronel (sorvete de limão com vodka – 3,80 €).

Em síntese, se a magia negra lhe abrir o apetite, ou se for para a praia e se esquecer do farnel, o Areal é uma boa opção.

Areal Praia – Restaurante / Bar * Avenida da Praia de Miramar (Miramar) * Contacto: 227 530 293 * Semana 12h00 – 15h30 19h30 – 22h30 (fim-de-semana 23h30 - não encerra) * Preço médio: 25 € * Nota: 65%

17 novembro 2011

A casa dos segredos

Há quanto tempo procurava eu um restaurante transmontano no Porto! Não falo de casas que prometem vitelas à mirandesa ou feijoadas à transmontana (de resto, prato que nunca vi em Trás-os-Montes) e que depois nos servem carnes de origem mais do que duvidosa.

Graças a um refinado estômago amigo, a quem eternamente ficarei grato, finalmente encontrei o almejado descanso do guerreiro esfomeado num restaurante onde os segredos da cozinha transmontana, e as suas melhores iguarias (e mais difíceis de concretizar com sucesso), estão à disposição do comum dos mortais portuenses.

O Caldeira é uma preciosidade escondida. Uma espécie de privilégio de sábios. E, no entanto, está mesmo ali, numa das praças mais centrais da cidade (Cordoaria), com um coreto à frente, o famoso café “Piolho” ao virar da esquina e a Torre dos Clérigos ao fundo.

A decoração é muito rústica mas a sua genuinidade (cestos com fruta fresca, legumes diversos e garrafões nas paredes) é imensamente acolhedora. A máxima “o cliente é um amigo” é algo que se sente à entrada.

Os proprietários fazem-nos chegar, a custo elevado mas empenhado (e que não se reflecte exageradamente na factura), todos os produtos directamente da origem. E isso – a par com uma mão de fada na cozinha – é parte fundamental do segredo.

A lista de vinhos existe mas somos aconselhados a experimentar – e bem! – “o vinho tinto do meu marido”.

As entradas, embora se paguem, não se pedem. Azeite de qualidade soberba com alho moído, pão e broa quentinhos e vários queijos compõem esta abertura que, de tão boa mas excessiva, pode pôr gravemente em risco a capacidade de enfrentar o que está para vir.

Os pratos são para pesos pesados e para os que gostam de manter essa condição. Sem hesitações, vou directo aos mais típicos e difíceis de encontrar: Favas à Transmontana (que incluem moira, orelheira, carne de vaca, grelos e beringela - € 12,70) e os Chichos com milho (trata-se de uma carne de sabor único daquela que irá servir para os enchidos e que está prolongadamente mergulhada em vinha d’alhos - €12,70). Perfeição é palavra vã para descrever estas obras de arte.

Termino com um doce de abóbora acabadinho de fazer (ainda quente) que se deve misturar com um fortíssimo e delicioso queijo de ovelha. Um licor de maçã bravo-de-esmolfe, essa iguaria da Beira Alta cada vez mais rara ou adulterada, é o grand-finale.

Trás-os-Montes no Porto? É aqui.

Caldeira * Campo Mártires da Pátria, 53 – Porto * Contacto: 222 088 603 * 12h30 – 14h30 19h00 – 23h00 (encerra Domingo) * Preço médio: 20 € * Nota: 78%

Surrealista é não poder fumar

Um restaurante chamado o Cão que Fuma pode parecer um convite para uma incursão pelo mundo do surrealismo gastronómico. Ou uma música da Tonicha. A origem do nome perdeu-se no tempo. No entanto, sabe-se que esta casa abriu por volta de 1943, pela mão de um casal de judeus franceses que, fugindo do III Reich, vieram dar ao Porto. A energia e coragem de resistência deste casal parece ter sido transmitida ao restaurante que sobrevive com sucesso até hoje.

Na decoração destacam-se as belíssimas fotografias de Manuel Pinheiro da Rocha, um alfaiate e fotógrafo portuense que, incompreensivelmente, continua a ser um ilustre desconhecido. Nas paredes vários “recados” dos visitantes e imensos cães fumadores. O que torna a interdição de fumar, essa sim, surrealista.

A carta de vinhos é curta e generalista. Das entradas selecciono um surpreendente Camarão à Havai (ananás, tomate fresco e molho de marisco - € 10,30). Dos pratos principais aconselho a Carne à Mexicana (cogumelos, pimentos, milho, carne de porco e cominhos - € 6,50) ou, em alternativa, o Entrecôte à Café de Paris (Paris fica longe e o molho não respeita a receita original mas a carne é de excelente qualidade - € 10,50). Para sobremesa, nostalgia da minha infância: queijo com goiabada (€ 2).

Pormenor surrealista adicional: não aceitam pagamento com cartões.

Le chien qui fume * Rua do Almada, 405 – Porto * Contacto: 222 059 340 * 12h00 – 14h00 19h00 – 21h45 (encerra Domingo) * Preço médio: 18 € * Nota: 70%

10 novembro 2011

Maximizar

Jantar na rua onde mais se regurgita por metro quadrado na cidade do Porto pode não parecer muito boa ideia. Explico-me: o Max fica praticamente ao lado do Tendinha, um dos bares onde uma parte substancial dos portuenses termina as (cada vez mais) longas noites desta cidade e onde, invariavelmente, à saída é possível (sobretudo a partir das 6 da manhã), assistir à devolução massiva de alguns sólidos e imensos líquidos.

Num momento em que tanto se apela à capacidade empreendedora nacional, aqui fica a janela de oportunidades para os putativos empresários portuenses: produzir e distribuir por esta zona da cidade vomitões e mictões. Tendo em consideração o estado de alguns dos corpos que podemos encontrar por aqui, apelo também às agências funerárias para que estejam mais atentas a inúmeras oportunidades de futuro negócio.

No entanto, e para desanuviar um bocadinho, saliento que jantando cedinho e não caindo em (todas as) tentações, é possível usufruir de uma refeição tranquila porque, sublinho desde já, o Max é uma agradabilíssima surpresa.

Como é típico nestes prédios antigos, a sala ocupa o rés-do-chão numa espécie de corredor que termina numa pequena esplanada e jardim. A recepção e atendimento são bastante atenciosos e os conselhos e honestidade dos mesmos muito bem-vindos. Para variar, a música ambiente é boa e amansa a alma. Detalhe sempre importante: pode-se fumar. A disposição das mesas permite privacidade, coisa pouco vulgar em espaços mais modernos e normalmente acanhados.

A carta de vinhos é pequena mas forte, incluindo várias possibilidades estrangeiras (sim, o vinho português é bom mas eu não tenho nada contra o Chile e as suas prodigiosas e baratas produções vinícolas).

Das entradas vale a pena provar: umas opíparas ovas de sardinha (€ 11); uma morcela crocante com maçã confitada (€ 6); e uns imperdíveis bombons de alheira (€ 6), tudo em doses bastante generosas. Nos pratos principais, e sem arrependimentos, optei por degustar o confit de pato muito bem combinado com migas regionais (€ 12,50) e um saborosíssimo tamboril lardeado com toucinho e batata-doce (€ 12,50). Apenas dispensava o excessivo acompanhamento de saladas demasiado vulgares. Para me ir habituando, ocupei a meia-hora de trabalho extra a degustar um requintado requeijão com doce de abóbora e canela (€ 3,50).

Sem pretensões exageradas, o Max maximiza o mais importante: boa comida num espaço bonito e a preços razoáveis.

Max * Rua Conde de Vizela, 68 R/c – Porto * Contacto: 222 080 757 * 12h30 – 15h30 19h30 – 23h30 (encerra Domingo) * Preço médio: 25 € * Nota: 78%

Não sair do Cêpa Torta

Que não saímos da cepa torta é uma das ideias feitas mais portuguesas. E que esperamos que alguém nos venha tirar daqui – sem nada fazermos para que isso aconteça – é o acto contínuo. No fundo, apreciamos entranhadamente esta inevitabilidade da desgraça e, convenhamos, esforçamo-nos imenso ao longo de séculos para a conseguir.

Vem isto a propósito de, a partir de agora, também eu me querer juntar a essas vozes. Mas por outras razões.

Sou recebido com muita gentileza e esforço para me encontrar uma mesa, tarefa nada fácil sem a devida reserva. O espaço invoca o conceito de “tasca fina”. É acolhedor mas, porque limitado, um pouco barulhento. A ementa está exposta numa lousa na parede. E fuma-se. Quase de imediato é servido um delicioso pão com tomate e queijo derretido acabado de fazer. A lista de vinhos é curta mas poderosa.

Das entradas selecciono uma aveludada sopa de tomate servida com um fio de natas (€ 3) seguida de um soberbo carpaccio de carne com queijo, alcaparras e muita pimenta (€ 7). Dos pratos principais atiro-me aos “da casa”: provo o excelente bife Cêpa Torta com imensa cebola e um providencial molho de vinho tinto (€ 11) e o polvo à Cepa Torta (polvo à lagareira), igualmente tenro e saboroso. Fecho em beleza com uma tarte de limão, bolacha e creme de leite condensado com merengue (€ 2,50).

E, apesar de ter saído, garanto-vos que, o mais brevemente possível regressarei ao Cêpa Torta.

Cêpa Torta * Rua de Sra. da Luz, 258 – Porto * Contacto: 226 189 284 * 12h30 – 15h00 19h30 – 02h00 (encerra Domingo) * Preço médio: 20 € * Nota: 80%

03 novembro 2011

Nem tudo o que brilha é Ouro

Estar em plena baixa do Porto e poder jantar num restaurante italiano que, pelo seu ambiente, decoração e música, nos transporta para o SoHo de Manhattan podia ser já suficientemente atractivo. Mas a promessa de aí encontrar uma fusão da essência da gastronomia italiana aliada à portuguesa (as minhas preferidas) obrigaram-me a uma visita de emergência e com altíssimas expectativas.

A fachada do La Ricotta é muito sedutora e a decoração interior, à base de madeiras e motivos vinícolas, bonita e acolhedora.

Recepção e atendimento são profissionais mas frios e mecânicos. Instalado no rés-do-chão com vista para a rua Passos Manuel início em grande com um dos melhores gins tónicos que já saboreie. Sublinho, é uma inolvidável experiência que, acima de tudo, se fica a dever à forma como o gin é preparado e servido.

No capítulo da enologia o La Ricotta está vários pontos acima da média com uma oferta de mais de 140 possibilidades (algumas a copo) e que o colocou na posição de finalista da melhor carta de vinhos 2011.

Depois de uma prova de azeites vulgaríssimos com duas variedades de pão, das entradas selecciono uma bruschetta nero e cherry (linguiça de porco preto, tomate cherry, pimentos, cebola, azeitonas, alho e grissini - € 5.60). Sinceramente pouco mais era do que um simples pão com chouriço e uns entreténs.

Para prato principal duas provas: gnocchi gamberetto com mexilhão, molho de marisco e chardonay. Interessante, mas o preço (€ 24.80) é absolutamente desproporcionado. Mas o pior estava para vir: um tornedó late botled vintage com espinafres, gratin de batata e creme ricotta (€ 18.80) que chega praticamente frio. Para sobremesa peço mandarino e limoncello (gelado de tangerina com licor limoncello e carpaccio de lima - € 5.20). Não foi suficiente para compensar o desconsolo.

Eu sei que os olhinhos também comem. Mas nem tudo o que nada é peixe. E quem não quer ser lobo não lhe veste a pele. Servem todos estes popularíssimos ditados para dizer que, se é verdade que o La Ricotta é um bom restaurante, também é verdade que alguns desacertos terão que ser corrigidos: preços mais razoáveis, maior coordenação na cozinha e, ainda que forçada ou tendo por base uma boa dose de Prozac, um atendimento mais simpático. Introduzam estas alterações e ainda vão a tempo de ser uma das referências gastronómicas da cidade. Caso contrário, à primeira qualquer um cai…

La Ricotta * Rua Passos Manuel, n.º 18 – Porto * Contacto: 222 023 300 * Dom. a Qui. 12h – 15h30 19h – 24h. Sex. e Sáb. 19h – 01h. (não encerra) * Preço médio: 40 € * Nota: 55%

Coma com pão

Não, não vos vou falar de produtos ou marcas da minha infância. O Nuno Markl que me perdoe mas, embora entendendo a nostalgia desse passado miserável, e que todos temos que fazer pela vida, eu sei que o chocolate Coma com Pão e o gelado Epá eram autênticas variantes de detergentes e que as pastilhas Pirata foram as principais responsáveis pela existência de várias úlceras no meu estômago.

Quero é falar-vos de uma das melhores açordas de marisco que já comi.

Escondido numa rua estreita A Margarida é um espaço bastante acolhedor com uma decoração rústica (muita pedra à vista, azulejos e madeiras). A recepção é muito hospitaleira – estamos numa casa de família.

Convém não enjeitar as entradinhas: petingas, morcela assada ou umas lascas de um bom presunto serrano. Para beber, a oferta até é boa, mas pouco importa porque fundamental é provar o verde branco particular servido com uma perícia circense. E, chegados ao prato principal, não há como escapar ao ex-libris: uma açorda de marisco servida, literalmente, dentro de um gigantesco pão de mistura. Para além de a açorda ser perfeita, podermos comer igualmente o prato em que é servida é uma experiência sem igual. Obrigatório é um digestivo para desfazer esta deliciosa violência.

Único senão: a brigada de trânsito da PSP nas imediações à nossa espera com um balão que, infelizmente, não é de uísque…

A Margarida * Rua do Castelo, 59 – Leça da Palmeira (Matosinhos) * Contacto: 229 961 402 * Seg. a Sáb. 12h – 15h30 19h30 – 24h (encerra aos Domingo) * Preço médio: 20 € * Nota: 77%